Minha Poética
Durante meus estudo apresento trabalhos desenvolvidos antes, durante e depois do período de doutorado, que foram revelando, aos poucos, à pesquisa que a produção artística não é o livro de artista, espaço ou lugar em si, a paisagem, mas sim a expressão de experiências artísticas vividas focadas na passagem do tempo, como o trabalho que chamei de Vanitas.
Minha poética enquanto artista transcorre no registro das várias experiências que vou vivenciado ao logo da minha existência. O diálogo entre elas vai deixando rastros uma na outra, caracterizando-se como experiências múltiplas, cuja abrangência envolve uma pesquisa como curadora/organizadora de exposições e uma pesquisa de artista individual.
Há sempre durante esta a trajetória espaço para uma produção poética no transcorrer destes eventos, como a produção de livros-objeto, gravuras em metal, monotipias, instalações, caixas de luz com a fotografia como ponto de partida e ainda o vídeo. Tal produção plástica contém experimentações, exercícios diretos e sistêmicos pertinentes a uma artista pesquisadora, cuja consistência foi adquirida a partir da realização das exposições e residências artísticas.
No site é possível ver a realização das três exposições, entre outras, que foi conduzida pelo Grupo de pesquisa Projetos Gráficos: entre livros de artista, gravuras e memórias, durante meu doutorado, onde em nossos encontros se tratavam as propostas a serem desenvolvidas nestes eventos, como as atividades paralelas, as quais chamamos de: conversas, seminário e oficinas. Estas foram como protótipos para a pesquisa, pois como artista vou realizando sempre mais ações semelhantes.
A escolha do grupo em aprofundar a questão do diálogo na arte, particularmente, foi um estímulo, pois este assunto veio de encontro às minhas inquietações e reforçou a minha ação como pesquisadora, cujo esforço principal seria agir de forma dialógica. Estas interlocuções com os participantes das exposições se potencializaram na medida em que duas das três exposições aconteceram no Rio Grande do Sul, meu estado de origem, e seguiram sob minha coordenação.
Uma ação de artista, que seria o trabalho realizado para as três mostra citadas, foi o projeto chamado “Silêncios Poéticos”, fundamentado nos conceitos de arte colaborativa e coletiva. No tocante a esta última, seu sentido não se refere a vários artistas produzindo um único objeto, mas a cada dupla de artistas produzindo trabalhos a partir de trocas. As exposições ocorreram em sequência, partindo de um único desenho, em que uma mostra dialogava com as demais, não somente das exposições, mas também das instituições onde ocorreram seus esforços e projetos.
Em cada exposição e residência encontrou-se uma oportunidade de vislumbrar, aprofundar e materializar a pesquisa, deslocando-se entre os limites do técnico e do estético; do coletivo e do individual; da criação de suportes, espaços e temporalidades ampliadas que geravam sempre novas reflexões e possibilidades.
Meu trabalho plástico visualmente se percebe as naturezas-mortas pelas imagens em decomposição, com aparência de algo passageiro ou efêmero. Sua aparência torna-se interessante, não importando mais se foi uma representação direta da natureza, a imagem de uma flor, folha ou borboleta. Poderia ser qualquer outro elemento. Além disso, pela fragilidade, também poderíamos pensar no feminino, porém, os resultados obtidos tornam-se questões que transcendem, como o conhecido conceito de que a flor e a folha estão no imaginário feminino. O tema que motiva a presente pesquisa é a Natureza, no seu amplo sentido: as plantas, a terra, as flores que acompanham a vida e o seu espaço com os nossos rituais, visivelmente identificadas nas obras expostas.
Estas questões já estavam presentes no mestrado, e, como em um percurso circular, volto à minha produção individual de modo mais intenso. Desta forma, na terceira e última parte, foi possível chegar à afirmação do desenho-pintura a partir da fotografia, transformando-se em trípticos ou polípticos.
Os trabalhos produzidos durante o período do doutorado e que continuo desenvolvendo até o presente momento, são apresentados, muitos deles, junto a referências artísticas e teóricas fundamentais para este estudo.
No tocante à parte teórica e dos pesquisadores, durante o doutorado, mais do que nunca, tive tanta admiração, gratidão e profundo respeito por estudiosos como Anne Moeglin-Delcroix, Paulo Silveira, Anna Tereza Fabris, Jeanne Marie Gagnebin e Hugo Fortes, este último, cujo estudo esclareceu de forma clara e simples a compreensão de como o artista contemporâneo usa a natureza para a construção de suas poéticas.
A escolha de Walter Benjamin ainda se dá pela reflexão teórica da narrativa e pelas escolhas que faz de temas da natureza para expressar realidades humanas, como fatos vividos (emaranhado de plantas), dificuldades (a flor, jardim e parques), entre outros. Identifico igual escolha da natureza, que serve para expressar minhas experiências vividas, e que está sempre presente em minha poética como artista.
Assim, o objetivo principal de meu trabalho de pesquisa é falar da natureza, da vida, do tempo e da morte através das cores, das formas e texturas, e para que isso ocorra escolheu-se a escuta como método. Motivada pelo trabalho que realizei no mestrado, intitulado de O que é a flor para você?, pretendo, a partir da escuta silenciosa, dialogar com as pessoas de forma intencional, pois as trocas entre os artistas é usual e é sempre rica; porém, para este estudo, isto ocorrerá com uma intenção e foco ainda maior – ouvir o que as pessoas pensam sobre arte, em especial sobre a modalidade Livro de Artista, que é a proposta das exposições. Mas, mais do que respostas é ver o que acontece nas trocas humanas, nos interstícios, nas dobras, nos meios e a experiência suscitada. A resposta a esta pergunta e consequente escuta virá como um fruto de algo positivo, que não sabe o que pode ser, mas um dos frutos do diálogo é suscitar em quem o produz algo que estava amortecido e que poderá aflorar em termos artísticos.
Podemos, desta forma, auferir que este estudo trata-se de um processo que foi e será transformado na medida em que for percorrendo esta trajetória, que teve início com as exposições, transcorrendo sobre os livros-objetos, polípticos e vídeos, para então chegar ao que é essência e centro desta pesquisa – a Natureza e os seus elementos, que resultaram em minhas últimas composições, abordando as Vanitas, a passagem do tempo e as naturezas-mortas.
Por fim, buscou-se com este estudo, através de uma atitude dialógica e de experimentações, mostrar que ele não encerra em si mesmo, mas que, pelo
contrário, está aberto ao que poderá ocorrer no transcurso destes quatro anos de pesquisa, movimentando-se, mudando de direção, alterando sentidos e trocando experiências.